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Vanio Coelho

VANIO COELHO

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Vou-me embora pra Pasárgada 

Semana dura, brother? Dinheiro curto, o fantasma do Imposto de Renda te perseguindo, o tempo enfezado, o trânsito enfunado, o humor dilacerado? Tu que andas tão perdido, à espera de uma sexta-feita que tanto custa a chegar e tão rápido de dissipa? Relaxa, mano. Viaja nos versos de Bandeira e pega o trem para Pasárgada. Aos amigos e inimigos, anuncia: “Vou-me embora pra Pasárgada/Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei...” De Brasília leio nas folhas que o Presidente da Agência Nacional de Aviação declara que não há crise nos aeroportos, que não existiu apagão aéreo. Em Floripa os cobradores fecham os ônibus, os motoristas não saem dos terminais, os patrões informam que “tudo bem”. No Rio desembargadores são presos com banqueiros do bicho por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. No Iraque uma bomba humana explore dentro do próprio Congresso, matando alguns deputados e mostrando uma realidade que teima em não sair das telas da TV. E se, depois de tantos aborrecimentos, amuamentos, emburramentos, zanga, intolerância, desafetos, incompreensão, o irmãozinho ainda encontrar motivo para se divertir, então tá explicado: Pasárgada é aqui.


Reveja o poema na íntegra:


Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive

E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.

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