Poder absoluto
- Vanio Coelho
- 1 de jul. de 2019
- 2 min de leitura
O brasileiro ainda não se deu conta mas a Copa do Mundo de 1982 vai ser transmitida apenas pela Rede Globo. Tendo adquirido em 1980 um “pacote” que incluía as Olimpíadas e a Copa do Mundo , a Globo, que já tem60% da audiência brasileira de TV, terá o monopólio de fato, com 100% dos aparelhos ligados durante a Copa do Mundo na Espanha, em junho próximo.
Eu não estou preocupado com a orfandade das outras redes - SBT e Bandeirantes. Elas foram indigentes (não tinham recursos para bancar os milhões de dólares para adquirir os direitos de uma olimpíada boicotada por diversos países , inclusive os Estados Unidos) e imprevidentes (não se deram conta do mercado que ora perdem e que só a publicidade de 4 patrocinadores - Santa Cruz, Volkswagen, Alpargatas e Coca Cola já rendeu para a Globo mais de três e meio bilhões de cruzeiros). Apenas poderia dizer, em defesa destas redes, é que em 1980 as associadas se afogavam na incompetência e desídia, o SBT não existia como rede e Bandeirantes procurava seu espaço.
Eu me preocupo são com três aspectos não negligenciáveis:
a) Qualidade. Qualquer sulista sabe que a Catarinense (repetidora da Globo) não entra bem por aqui, onde a imagem da Eldorado (repetidora da Bandeirantes) de Criciúma é bem mais nítida pois, sendo regional, ela se dedica a melhor servir seu mercado. Também em algumas cidades é boa a imagem da Cultura (repetidora do SBT). Além do fato que ninguém é obrigado a suportar um determinado narrados, por melhor que seja.
b) Monopólio. A TV Globo terá, nos dias de jogos do Brasil, o país inteiro sob os seus olhos. Durante quase 3 horas, o Sr. Roberto Marinho terá 80 a 90 milhões de brasileiros à sua mercê. Mesmo que este poder absoluto seja usado com parcimônia - ou mesmo não seja usado - a simples lembrança de que um único homem possa controlar tantos corações e mentes, simultaneamente, provoca calafrios no mais impassível dos céticos.
c) Abuso. Entre os patrocinadores está a Souza Cruz, maior fabricante de cigarros (82% do mercado nacional). Temendo que o Congresso Nacional vote uma lei restringindo a publicidade de cigarros na TV, as Agências de Propaganda adotaram há 3 anos um “Código de Auto-regulamentação”, no qual está escrito que a publicidade de cigarros na TV só se faria após às 21 horas, exceto quando do patrocínio de competições esportivas. Aberto o precedente, a Globo nos oferece com a passividade de todos nós, essa multinacional do cigarro que vai poder assim vender mais “hollywwod” do que já o faz. É a aliança do monopólio da imagem como o monopólio do vício.
JORNAL DE IMBITUBA-Imbituba
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