Na infância, fomos anestesiados com os versos de Olavo Braz dos Guimarães Bilac: "Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança, não verás nenhum país como este". E foi só. Mais tarde, receberíamos a triste constatação de não passarmos de um gigante deitado eternamente. Nelson Rodrigues definiu como "complexo do vira-lata" a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Fomos mantidos sob a tortura intelectual de que o povo brasileiro é inferior a outros ou "degenerado".
Já em 1845, quando por aqui passou o conde de Cobineau, os cariocas foram definidos como "verdadeiros macacos". Não foram poucos os antropólogos, como Nina Rodrigues, Oliveira Viana e até Monteiro Lobato, que acusavam nossa miscigenação e a vida nos trópicos como a raiz de todos os males, estimulando a preguiça e a luxúria. Enquanto Roquette-Pinto bradava que a inferioridade era um problema de ignorância e não de raça.
O Brasil, no entanto, é reconhecido como país inventivo (que vão do aeróstato à máquina de escrever, do avião aos automóveis bicombustíveis), mas não teve a sua produção científica reconhecida através de um prêmio Nobel, enquanto outras nações sul-americanas, tais como Argentina e Venezuela, já o conquistaram. Pois agora a BBC de Londres divulga estudo sobre a visão dos latino-americanos sobre o Brasil e os brasileiros e conclui: nas ruas da América do Sul, duas imagens emergem quando se pergunta às pessoas o que elas pensam sobre o Brasil. É a idéia de que o Brasil é um país "amigo", "alegre", com "gente e praia bonitas". E de uma potência e economia a ser invejada.
Não é à toa que Lula tanto pode conversar de igual com Bush e Chávez quanto mandar Evo Morales ficar quietinho e dizer ao "camarada" Fidel Castro que ele foi, mas não é. O Haiti não quer que o Brasil saia de lá; a França lhe pede para interceder por Ingrid Betancourt; a Argentina solicita socorro energético; o Equador quer apoio contra a Colômbia; e a Bolívia, mais investimentos. Nossa geração assiste ao nascimento de uma nova nação. Cabe a nós zelar pelo seu bom uso.
NOTA escrita para coluna Cacau Menezes - Diário Catarinense - Florianópolis/SC
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