Vivemos numa época em que, se a representação proporcional, num sistema de governo, não procura manter a defesa dos interesses do povo, grupos extremistas, da direita e da esquerda, lutam entre si na busca do poder. Enquanto os governantes dessa conturbada América latina só pensam em legislar por causa própria, dois grupos antagônicos vão se formando na procura desesperada do poder e nem sempre baseados na opinião popular, ou na representação de seus interesses.
Enquanto Casto, em Cuba, prega uma nova ordem para os povos menos desenvolvidos, Bittencourt, da Venezuela, se intitula “líder” inconteste da democracia da al. - seria? E as guerrilhas na terra do pobre formam? Se o regime lá é maravilhoso, se é democracia lá realmente funciona por que então existem homens em armas, pelas serras, vilas e povoados? Por que, se a democracia de Rômulo Bittencourt funciona, lá, como antes em Cuba, e agora na Colômbia, na Guatemala e no Equador, pessoas com fuzis e passando fome, pregam uma nova doutrina econômica? Muito bem fez o Brasil, quando mandou o lacaio de Bittencourt fechar a boca, quando este “pretendia” como “líder” democrático que os comunistas mais temem: induzir o hemisfério americano a romper com a Argentina. E a chapuletada do Brasil foi tão grande, que o homem não só desistiu de considerar-se líder, como se apagou por completo.
Mas o problema suscitado sobre a Argentina perdura em Punta Del Este, quando se julgou o caso cubano, a Argentina esteve o tempo todo ao lado do Brasil, impedindo que um país militar usasse seus irmãos como testas de ferro, numa invasão não tanto suicida, mas destruidora de povos, de civilização, de decência, de justiça. A atitude desassombrada de Frondizi irritou os “gorilas” (para os Argentinos, convém não esquecer, somos todos “macaquitos”), que o obrigaram a romper relações comerciais e diplomáticas com Fidel. Frondizi disse não, mas acabou cedendo. Depois veio aquela coisa feia, da eleição de 7 governadores peronistas. O povo argentino, humilhado, ultrajado por um presidente cafajeste e ministros militares botocudos, preferiu a política do ex-ditador, que se era cruel, ao menos impunha certo respeito argentino no conceito de outras nações, pelo menos junto ao Uruguai e Paraguai. Mais ainda, era a política do “petróleo é nosso”, outro mito destruído por Frondizi, sempre temeroso de perder a presidência. E quando os ministros militares impuseram “impeachment” contra os candidatos peronistas eleitos, Frondizi novamente disse não! Pelo menos uma vez na vida, o homem foi o suficiente homem para aguentar o “galho”. Preferiu a deposição, a uma covarde fuga, ou uma degradante aprovação. E a farsa continua. Frondizi preso, os candidatos peronistas leitos sem posse, um país sem dignidade internacional, e acima de tudo acéfalo. José Maria Guido (a Argentina não tem cargo de vice-presidente), então presidente do senado, foi chamado a presidir, como herdeiro constitucional, o cargo de primeiro magistrado da nação. Assinou os documentos preenchidos pelos “gorilas”, assinou documentos em branco, assinou prisões, assinou destituição de governadores, a prisão de Frondizi, e quase assinou a destituição do atual congresso. E agora, Guido, isolado, sem apoio de seu partido, quem tem o domínio do congresso, sem o apoio, apenas com as costas guardadas pelos “gorilas”, enfrenta seu próprio dilema: o que fazer? Ninguém quer integrar de seu ministério. Ninguém quer pactuar com a desonra de um país, que há muito, muito tempo teve honra. Enfim, é o fim dos extremistas.
Chega ao final, o reinado da força da América latina. Como todos os caudilhos, também todos os gorilas estão desaparecendo. Democracia tem sido definida como governo de maioria e preservação das liberdades fundamentais: escolha da profissão, escolha de um companheiro, escolha de um lar, escolha de uma religião. Como é impossível contentar a todos, atende-se ao que a maioria pede. Se essa maioria pede comunismo ortodoxo, deem-lhe. Se quiser um socialismo moderado, que o decretem. Se quiser governo aristocrático, plutocrático, autocrático, respeite-se a opinião popular. Como no Brasil, a Argentina não tem governo democrático. É necessário que um povo evolua, para formar homens com dignidade, com menos paixão e maior interesse coletivo, para que se viva num regime de concórdia, de harmonia, de paz, de progresso, de felicidade.
FLÂMULA, jornal da União Paranaense de Estudantes-Curitiba.
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