Em nenhum lugar do mundo matam-se tantos com arma de fogo como no Brasil. Essa guerra não declarada pode ter ceifado UM MILHÃO de pessoas nos últimos 30 anos: são mais de 50 mil por ano. Nas campanhas na TV os dois lados abusam das estatísticas.
Cacau, que adora provocar - sobretudo num domingo de chuva - mete sua colher, mesmo porque, pai de quatro filhos, trabalhador na “night” e sem carro blindado ou porte de arma, pode bem avaliar o estresse dos que estão sujeitos à violência urbana. Embora exemplos sejam manipuláveis, não se pode ignorar alguns fatos: Estados Unidos tiveram 50 mil mortes nos 20 anos da guerra do Vietnã e os filmes e as músicas e os livros não nos deixam esquecer. Trinta anos de luta do IRA contra soldados ingleses na Irlanda matou três mil almas, mas a Europa não se perdoa por isso. Ano passado, na Inglaterra, morreram pouco mais de mil pessoas vítimas de armas de fogo. Em Chicago, nos anos 30, as famosas “Guerras de Gângsteres” mataram pouco mais de 300 pessoas. Em Floripa, em 1981, o crime mais comentado foi desaparecimento de um jovem universitário que, meses depois, dava sinal de vida: ele se mudara para Manaus sem avisar. Neste ano, em Floripa, ex-santuário da não violência, já se mataram mais de 400 pessoas. E ainda se toma decisão como se não houvesse em guerra aqui mesmo. As autoridades dificultaram a posse de arma, indenizaram aqueles que as entregaram e os bandidos já estão na pior. Sem armamento disponível, assaltam postos policiais, delegacias, exército e até fórum de justiça em busca de armas. Sem o roubo de armas do cidadão desarmado uma das fontes se fecha, já que o contrabando atende apenas bandidos sofisticados com cacife para adquirir armamento caríssimo.
A violência não vai acabar mesmo porque tem outras causas. Mas quando se envolver num banal acidente de trânsito, você vai saltar do carro e conversar civilizadamente com seu algoz, sem medo de ser recebido com um “ferro” e levar seis “azeitonas” na cara. Para grandes problemas, grandes soluções. Dentro de duas semanas iremos às urnas para liberar ou vetar o comercio de armas. E se, daqui a cinco anos, a medida se revelar ineficaz é só revogá-la, como foi a Lei Seca (1920-1933) nos Estados Unidos. E só para provocar: ano passado NINGUÉM devido a arma de fogo. Na Dinamarca.
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