Das lições que o pai passa ao filho a mais difícil é o modelo de comportamento. Afinal, por diversos caminhos se chega à perfeição: pela imitação, que é o mais fácil, pela experiência, que é o mais difícil e pelo exemplo, que é o mais nobre. Não se pode dizer que os versos de “If”, de Rudyard Kipling, representem um modelo a ser praticado. Mas ao longo de seu poema quantas verdades descobrimos? “Se és capaz de manter a calma quando, ao teu redor todos a perderam e te culpam e a todos, no entanto, encontrar uma desculpa?” Ou então não se desesperar ao descobrir ludibriado, não mentir ao mentiroso, entregar-se ao pensamento sem deixar de fazer outras coisas e mesmo sonhar sem fazer dos sonhos seu senhor? Quantas vezes sofremos por ver transformadas em armadilhas as verdades que dissemos, e por isso pagamos elevado preço? Será que o querido leitor seria capaz de apostar, numa única parada, tudo o que ganhou na vida e, se perder, começar tudo de novo e ainda por cima sem nada dizer, resignado? Pois, “se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes e, entre Reis, não perder a naturalidade, tua é a terra com tudo o que existe no mundo e, o que ainda é muito mais - tu és um homem, meu filho”!
Íntegra do poema de Rudyard Kipling:
(IF) SE
Se és capaz de manter tua calma, quando, todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa. De crer em ti quando estão todos duvidando, e para esses no entanto achar uma desculpa. Se és capaz de esperar sem te desesperares, ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, e não parecer bom demais, nem pretensioso. Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires, de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores. Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires, tratar da mesma forma a esses dois impostores. Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas, em armadilhas as verdades que disseste E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas, e refazê-las com o bem pouco que te reste. Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida. E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida. De forçar coração, nervos, músculos, tudo, a dar seja o que for que neles ainda existe. E a persistir assim quando, exausto, contudo, resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste! Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, e, entre Reis, não perder a naturalidade. E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, se a todos podes ser de alguma utilidade. Se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho. Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo.
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