O tiro que ecoou naquela madrugada em Ipanema, no Rio, não tirou apenas a vida do jovem Daniel Duque. O PM Marcos Pereira do Carmo, quando dava segurança a Pedro Adnet Velasco, filho da promotora carioca Márcia Velasco, destruiu o sonho, os ideais, as perspectivas, as promessas, as esperanças da mãe e, mais que isso, foi um tiro no coração de todo pai. Quem tem filho sabe não estar imune à tragédia semelhante, mesmo quem não sai à noite e não feste, pois até na escola um tiro pode vir de qualquer direção. “Esta é a única dor que não passa", dizem aqueles pais que enterram os filhos. O sofrimento é tamanho que chega a abreviar a existência dos pais, tão devastador é o ato que contraria a lei da vida: são os filhos que devem enterrar os pais, não o contrário.
Ainda que raramente, às vezes é a verdadeira vida, sem metáfora alguma, que leva os filhos antes dos pais, deixando nestes a realidade do quarto vazio, o quarto do filho que lhes foi tirado. Não se trata da síndrome do ninho vazio – aquela incerteza, aquela insegurança que atormenta as mães cujos filhos bateram asas deixando-a sem ocupação, sem preocupação, sem ter a quem distribuir carinho e atenção, pois, nestes casos, mesmos distantes eles estão em algum lugar. Triste é ver o quarto do filho, seus objetos, suas lembranças, sua desarrumação, sem luz e sem calor
Imagine-se indo ao necrotério e ver o corpo querido do filho estraçalhado, o crânio esfacelado, rosto desfigurado, as marcas dos tiros e da violência gratuita. E descobrir que perder um filho é morrer em vida.
NOTA escrita para coluna Cacau Menezes - Diário Catarinense - Florianópolis/SC
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