Num ousado avanço da biologia molecular, dois biólogos de Hamburgo, na Alemanha, fundiram, pela primeira vez, células animais com células vegetais - as de um tomateiro com as de um boi. Deu certo. O "fruto da carne", derivado da fusão da carne do boi e do tomate, batizado com o sugestivo nome de boimate, constituiu-se, sem dúvida, no mais sensacional "fato científico" de 1983, pelo menos para a revista Veja, em sua edição de 27 de abril.
Na verdade, trata-se da maior "barriga" (notícia inverídica) da divulgação científica brasileira. O boi produzia um bife com gene de tomates e foi batizado de "boimate". A notícia atribuía a criação aos "biólogos" Barry McDonald e William Wimpey, da Universidade de Hamburgo. Na verdade, a Veja caíra numa brincadeira de 1º de abril da revista inglesa New Science. Para tanto, a revista deu várias pistas: McDonalds e Wimpeys são cadeias internacionais que vendem hambúrgueres!
Ante o silêncio da revista, que levou dois meses para admitir a "barriga", pessoas criativas escreveram à redação noticiando outras aberrações, como a descoberta do "jeribá", pseudocruzamento de jabá com jerimum; o "goiaqueijo", uma mistura de gens da goiaba, cana-de-açúcar e queijo; do "feijoporco", o cruzamento de porcos com feijão para dar um melhor sabor à feijoada. Houve quem registrasse o cruzamento, com "êxito", do pombo-correio com o papagaio, capaz de levar mensagens faladas ao destinatário.
Essas brincadeiras vêm a propósito de uma séria arapuca criada pela internet: a facilidade com que falsas verdades são distribuídas a cada minuto. O ato de escrever dobra a responsabilidade do autor, vigiado por milhões de câmeras do Grande Irmão, previsto por George Orwell Wells em seu romance 1984: os implacáveis e imperdoáveis críticos.
NOTA escrita para coluna Cacau Menezes - Diário Catarinense - Florianópolis/SC
Comments