Os automóveis movidos a álcool estão encalhando nos pátios das montadoras ou devolvidos às revendedoras com elevado deságio. O Proálcool segura os financiamentos e mais uma boa idéia pode ir por água abaixo por ganância daqueles que esperaram dinheiro fácil e generoso do governo, nada dando em contrapartida. O que houve com o Programa Nacional do Álcool? Quando as montadoras começaram a lançar no mercado motores a gasolina adaptados para álcool (eis aí o primeiro equivoco: os motores não são a álcool: são adaptados para álcool), e as retificas queriam até cem mil cruzeiros para converter um motor usado, as filas para o novo veiculo faziam a felicidade geral. Álcool 40% mais barato que a gasolina, combustível aos sábados, TRU com valor simbólico. A Volkswagen entrou em parafuso porque ninguém queria o Gol a gasolina.
Quem tinha automóvel movido à energia vegetal queria 50, cem mil a mais numa troca. As montadoras desafiam o governo aumente a oferta de álcool que nós produziremos 150, 250 mil veículos por ano... As distribuidoras do derivado se assanhavam: foram com a Petrobrás no álcool. Em Mato Grosso se anunciava a maior usina de álcool do mundo, em Dodoquena. A Ford anunciava eufórica: Corcel, o carro que deu certo com o álcool, a Fiat com o Mieli na TV dizendo que fazia até 17 km por litro... O governo se assustava, o CNP criava o "selo" que dava exclusividade no abastecimento, exportações eram desestimuladas.
Aos poucos o governo foi encurtando o subsídio ao álcool e seu preço encostou na gasolina (a diferença, de cerca de 30%, fica por conta do menor rendimento do álcool). Os carros retificados retornam às oficinas, os zerinhos custam a "pegar". O público se retrai, os estoques aumentam, apela-se para Petrobrás estocar o álcool e o produtor não falir (mas recebendo no ato o pagamento)...
Preto no Branco, posso comprovar, após analisar o consumo de seis "Fiats", num total de 600 mil quilômetros rodados, que o rendimento ronda os 7 km (apenas um dos seis veículos rendeu um pouco mais,10 km, mas assim mesmo bem distante dos 17 km prometidos na TV). Mas não quero fazer guerra contra a Fiar, já que problemas também de consumo e partida existem nas outras marcas, que não se dedicaram muito à pesquisa e teste antes de lançar seus veículos.
Porem o que me choca é um anuncio daquela Multinacional instalada em Monas Gerais. Prometendo uma diferença para mais de 90 mil cruzeiros por carro usado trocado por um modelo "Fiat", os concessionários advertem que tal oferta só é válida para "carros a gasolina em produção", sepultando assim um dos projetos mais inteligentes nascidos nos trópicos. Paradoxalmente, o Proálcool está sendo sabotado pela maior beneficiada: a indústria automobilística.
* Jornal da Cidade (Tubarão, SC)
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